A União e a Separação da Histérica no Triângulo Amoroso

                 

     

"De um Curso a um Discurso". Clínica Hoje. XIII Jornada de Trabalhos dos Alunos do Curso de Formação de Psicólogo. UniCentro Newton Paiva. Belo Horizonte. Dezembro de 1997.

"O destino da menina aparece, assim, como o de uma metáfora impossível ou de uma luta permanente para se elevar do registro da metonímia para o da metáfora." (Serge André, 1986:187).

Apresento este artigo baseado em um atendimento clínico, na tentativa de explicar o conflito conjugal de uma neurótica histérica, que a levou a uma repetição amorosa.

Freud já dizia que, nas mulheres, o Complexo de Édipo estabelece o efeito de um desenvolvimento demorado. Ele é criado pela influência da castração. A falta do pênis é experimentada como um mal sofrido que a menina procura negar, compensar ou reparar. O Complexo de Édipo vai além de assumir o lugar da mãe e escolher uma postura feminina para com o pai; resultando em um desejo, mantido por muito tempo, de receber do pai um bebê. Com o tempo, o Édipo é abandonado face à impossibilidade de dois desejos - ter um pênis e um filho - que permanecerá no inconsciente, preparando e influenciando a menina para uma posição futura.

No caso clínico a que proponho, a cliente compareceu à Clínica, queixando-se de atitudes do marido que, além de ser alcoólatra, a agredia fisicamente. E, em uma de suas sessões, relatou o seguinte: "O meu pai e meu ex-marido são bem parecidos, têm o mesmo nome e são implicantes. Eu e minha mãe relacionamos muito bem, ela é a rainha da paciência."

A forma em que a cliente se relaciona com a mãe é efeito da histeria, relação da menina com a mãe. Sua opção de amor ocorre na sua relação amorosa e é vivenciada por decepções, como a de uma princesa da paciência, que se identifica com a mãe, através da histeria feminina, num interjogo imaginário de constituição edipiana. O desejo da princesa é torna-se rainha, rainha de uma fantasia infantil e, assim como a mãe, possuir o falo, objeto sedutor de desejo.

Segundo Freud, uma mulher escolherá um homem, seja segundo o modelo paterno (escolha objetal), seja segundo o modelo narcísico (escolha narcísica). No modelo narcísico, o homem escolhido será semelhante àquele que a menina teria desejado ser no período pré-edipiano. Mas se a escolha se faz conforme o modelo paterno, estabelece-se que ela não demora em deixar reaparecer a mãe através do pai: "o marido que anteriormente só herdará do pai assume, com o tempo, o papel de sucessor da mãe." (Freud, 1931:163) e obtém toda a hostilidade que a filha antigamente tinha vivenciado com a relação com a sua mãe. 

Ainda de acordo com Freud, essa relação com a mãe, no seio da vida amorosa da mulher, constitui a condição mesma do casal e da felicidade conjugal: seu sucesso só depende de uma nova distribuição de identificações. Se a mulher reencontra uma mãe na imagem de seu marido - mesmo que tenha escolhido o modelo paterno - o desempenho do casal consistiria na inversão dos papéis, de modo que o marido ocupe o papel do filho e a mulher, o papel da mãe. O nascimento de um primeiro filho pode ter um efeito de transformação na identificação. Porém, essencialmente, "o próprio casamento não é verdadeiramente garantido, enquanto a mulher não conseguir fazer de seu homem seu filho e agir para com ele como sua mãe." (Freud, 1931:163).

A problemática feminina não é outra coisa senão o retorno invencível da relação antiga com a mãe. "Tudo se passa na realidade como se, para a menina, o pai nunca substituísse completamente a mãe, como se fosse sempre está última que continuasse a agir através da figura do primeiro." (André, 1986:179).

A histeria estabelece, portanto, nesta problemática, onde a histérica se debate entre a castração e sua feminilidade, em que tornar-se mãe faz predominar a relação mãe-filho sobre a relação mulher-marido.

🐬 Jane Freitas Ribeiro